Se, vindos de diferentes países e estados, aqui nos reunimos para proclamar que o nosso ídiche é uma língua igual a todas as outras línguas, devemos agradecer o fato a um quarto momento sóciopolítico mundial [neste processo de libertação]. O Estado ao qual se ofereciam em sacrifício povos pequenos e fracos, como outrora eram oferecidos crianças pequenas a Moloch, o Estado, que devido aos interesses das classes dominantes dentre os povos precisa tudo nivelar, igualar: um exercito, uma língua, uma escola, uma polícia, e um direito de polícia – o Estado perde seu brilho. A fumaça, que ondeava tão densa e gorda sobre o altar, torna-se cada vez mais rala e dispersa. O “povo” e não o Estado, é a palavra moderna! A nação e não a pátria! Uma cultura peculiar e não fronteiras com caçadores guardando a vida peculiar dos povos... E os povos fracos e oprimidos despertam e lutam por sua língua, por sua singularidade, contra o Estado, e nós, os mais fracos de todos, cerramos fileiras!... E declaramos ao mundo: Nós somos um povo judeu e o ídiche é a nossa língua e é nessa língua que desejamos viver e criar nossos bens culturais e doravante jamais sacrificá-los aos falsos interesses do “Estado”, que é unicamente o protetor dos povos governantes e dominadores e o sanguessuga dos fracos e oprimidos
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.
Não ficar de joelhos,que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocaçãodevem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.
É preciso não ter medo, é preciso ter a coragem de dizer.
Marighela, São Paulo Presidio Especial 1939